Se fosse pelo número de gerações transcorridas desde que meu tataratataravô veio da Alemanha para o Brasil, há quase dois séculos atrás, minha origem teutônica já estaria completamente diluída e esquecida, como muitos dos meus antepassados mais longínquos sobre os quais não tenho informações. Mas não é o caso desse alemão que veio para o Brasil com sua esposa e filhos e começou uma numerosa descendência, como atesta um anúncio de uma de suas filhas em um jornal de Dois Irmãos-RS. Ela, seus 9 filhos e 99 netos comunicam o falecimento do esposo. Por aí dá pra imaginar o número de descendentes em 7 gerações! Alguns desses, como eu, vieram sempre pela linha paterna, e guardam o sobrenome original (ou quase). Por essas e outras minha família acabou sendo convidada para um encontro de descendentes e conheceu muitos parentes, próximos e distantes, aprendendo um pouco mais sobre esse ramo da nossa árvore genealógica.
Quando fui estudar na Alemanha em 2008, surgiu a idéia de procurar algum registro desse meu antepassado. O que eu sabia sobre ele é que se chamava Jacob Werle, nasceu em 1788 e chegou ao Brasil em 1826 com sua esposa Elisabetha e 4 filhos, procedente da região de Darmstadt. Casualmente, fui estudar em Frankfurt, que fica a apenas 30 minutos de Darmstadt. Séculos depois lá ia eu, coincidentemente regressando à região de meus antepassados.
Meu primeiro passo foi fazer uma visita a Darmstadt, junto com uma amiga alemã, Frau Beckenbach, que havia se disposto a me ajudar nessa empreitada. No dia anterior eu havia coletado possíveis telefones e endereços úteis, como o do registro civil e o da sede da diocese católica, além de dados como os prováveis anos de nascimento de Jacob Werle, sua esposa e os filhos que tiveram na Alemanha antes de partir para o Brasil.
O primeiro contato, com a prefeitura, trouxe a informação de que em 1825 ainda não havia sido instituído o registro civil na região, portanto nossa busca deveria recair necessariamente sobre os registros religiosos, ou seja, os livros de batismos, casamentos e óbitos mantidos pelas igrejas locais.
Ao conversar com o secretário da diocese recebemos a notícia de que os livros com os registros originais haviam sido destruídos durante a guerra, e restavam apenas cópias referentes ao período de 1800-1875. Ou seja, o registro da época do nascimento de Jacob Werle certamente não existia mais, e me restava apenas a possibilidade de encontrar registros de seu casamento ou do nascimento de seus filhos. As cópias dos livros das igrejas se encontravam no Hessisches Staatsarchiv Darmstadt, o Arquivo Estadual de Darmstadt, no formato de microfichas. Porém a pesquisa nesse arquivo teria que ficar para um próximo dia pois naquele ele se encontrava fechado.
Contei novamente com a ajuda de Frau Beckenbach, que contatou o arquivo por telefone. Segundo a informaram os funcionários, eu precisaria saber qual ou quais igrejas específicas pesquisar, visto que havia mais de 500 igrejas católicas com cópias de seus livros disponíveis no arquivo. Também seria necessário ter conhecimentos de escrita Sütterlin, que vim a saber ser um sistema de caracteres cursivos utilizados na Alemanha nesse período. Ele é bastante diferente da forma das letras que estamos acostumados a reconhecer, na verdade quase um alfabeto distinto. Mais um desafio na busca por Jacob! Será que eu iria conseguir decifrar essa escrita? Para me preparar, imprimi da Internet alguns guias e tabelas de referência (www.suetterlinschrift.de).
Antes de ir pessoalmente até o arquivo, também aproveitei para fazer uma pesquisa em algumas seções de seus documentos que estão disponíveis para consultas pela Internet (www.hadis.hessen.de). Uma das seções que me pareceu bastante promissora foi o arquivo de emigrantes (Auswanderer-Nachweise). Procurei nele o nome de Jacob Werle, porém o mais próximo que achei foi um outro Werle: Johannes, que teria supostamente emigrado para o Brasil no mesmo ano em que Jacob partiu nessa direção. Supostamente porque ao lado da transcrição do registro (o original já não existe mais) constava um ponto de interrogação. Constava também a localidade onde Johannes Werle morava: Heppenheim. Essa informação me ajudou depois para que o funcionário do arquivo consentisse em me emprestar o conjunto de microfichas referentes aos livros da igreja de lá. Eu já havia aprendido com minha amiga, quando ela me ajudou em minha primera fase de indagações, que para os alemães não basta perguntar se algo é possível (möglich) mas é preciso principalmente indagar se é sensato (sinnvoll). Começar aleatoriamente uma pesquisa entre mais de 500 igrejas definitivamente não era sensato, foi o que captei no olhar que o funcionário do arquivo me lançou quando lhe disse que não sabia a localidade exata onde viviam meus antepassados. Felizmente, ao indicar o registro desse outro Werle nos livros de emigração, pude ter acesso às microfichas da igreja de Heppenheim, finalmente um ponto de partida tangível na minha pesquisa.

minha estação de pesquisa: parte da máquina leitora, o conjunto de fichas de Heppenheim e minha tabela de caracteres em Sütterlin
Lá fui eu então usar pela primeira vez uma leitora de microfichas. Descobri que por serem fotografadas com filmes negativos, a escrita aparece branca sobre um fundo preto. Gastei umas boas 2 horas apenas passeando pelas páginas e tentando ler algo, um nome, uma palavra que fosse, no meio daquele amontoado de garranchos esmaecidos no visor. Aos poucos comecei a entender como funcionava o sistema de registro, e onde em cada um dos batismos meticulosamente anotados com bico de pena pelo escrivão da paróquia ficava a parte que me interessava: o sobrenome. Pude então buscar nos livros de batismos dos anos de 1815, 1817 e 1821 a 1825 por Maria Catharina, Andreas, Valentin, Anna Maria e Isabel. Por via das dúvida, dei uma olhada também nos livros de casamento dos anos 1810 a 1815. Sempre procurando pela primeira letra, “W”, e quando encontrava essa letra, tentava identificar logo após um “e”, um “r”, e assim por diante.
Não encontrei nada. Em um momento, enquanto ainda estava folheando ao acaso as microfichas e esperando que alguma parte do meu inconsciente miraculosamente começasse a dar sentido àqueles “garranchos arcaicos”, achei por acaso a assinatura de uma testemunha de batismo praticamente homônima, um “Jakob Werle” (ou assim pensei, tirei uma foto dessa tela para que outros possam corroborar minha tentativa amadora de decifragem). Não fiquei entusiasmada com esse achado, pois sabia pela minha pesquisa nos arquivos online de Darmstadt que existiram vários Jacob Werle contemporâneos do meu antepassado. Um deles trabalhava nos correios, e o outro gostava de preencher reclamações formais contra várias coisas que o desagradavam na comunidade. Esses registros homônimos que achei porém ou são de anos após a emigração do meu tataratataravô, ou trazem dados diferentes relativos ao ano de nascimento e nomes da esposa e filhos. No final, terminei essa etapa da pesquisa de mãos vazias. Para onde continuar a partir daí?
O mais “sensato” a fazer agora, a meu ver, é esperar pelo próximo encontro da família Werle em 2010, e tentar obter com meus parentes alguma informação mais específica sobre a localidade onde viviam nossos antepassados, para depois voltar aos arquivos. Quem sabe não descubro alguma pista promissora? Assim posso adicionar um segundo capítulo à saga “em busca de Jacob Werle”.
Bah, isso foi um trabalho jornalístico.
Confesso que não fui atrás dos meus parentes na Itália, até porque eu estava na Alemanha. Mas pretendia, apenas não deu tempo.
Importante irmos atrás dos nossos antepassados, acho fundamental!
Beijos.
Eu sou descendente da família Werle, mas da Elisabeth Werle cc. Abraham Bohnenberger. Dizem que eles podem ter sido irmãos…até hoje não sei. Muito bom os links que vc deixou aqui. Encontrei minha outra família, a Nabinger por esse link do arquivo de Hesse.
Abraço,
Leonardo
Oi professora, li seu texto, achei muito interessante, tenho um amigo que trabalha com pesquisa de brasões de familia é um grande historiador, acho que seria interessante vc conversar com ele, poderá te dar alguns toques.
se tiver interesse te mando por email o contato dele.
Abraço
Diogo Santoro
oi Leonara boa tarde como voce é estudiosa dos WERLE,minha mãe é Werle tb e eu participo sempre dos encontros,será que vc me passe seu celular para podermos trocar umas ideias? o meu é 11 9 96850203 e é Vivo,assim poderiamos conversar;Muito grato Norberto Swarowsky
Aguardo novas notícias , qualquer coisa mande para banda0800@hotmail.com